Resumo: Artigo 36272
O Sistema de Inovação da Agro-indústria Canavieira Brasileira (3, 23, 32, 107)
André Tosi, State University of Campinas, Brazil.
Apresentação: Friday, May 30, 2008 1:15PM - 3:15PM sala 210 - UNIRIO VII ESOCITE - Sessão 55 - Chair: Debatedor a Confirmar
Abstract.
O etanol tem despertado recentemente grande interesse internacional por duas razões principais. Em primeiro lugar, apresenta-se como uma alternativa aos derivados de petróleo usados no transporte individual de passageiros, cujos preços elevaram-se substancialmente nos últimos anos. Em segundo lugar, porque o etanol é uma fonte de energia renovável, que mitiga a geração dos gases de efeito estufa. O Brasil, embora esteja perdendo a sua liderança na produção de etanol em 2006 para os Estados-Unidos, surge internacionalmente como o país que mais desenvolveu a produção de etanol a partir da biomassa. Diferentemente do sistema americano que se apóia no milho como principal matéria-prima, o etanol brasileiro é produzido a partir da cana de açúcar, na maioria das vezes associado à produção de açúcar A rota brasileira apresenta-se como muito mais competitiva e muito menos poluidora (geradora de gases de efeito estufa) do que a americana. O objetivo deste artigo será de analisar os principais traços do sistema brasileiro de inovação que se estruturou em torno à agro-industria canavieira. O sucesso brasileiro em matéria de cana-de-açúcar não pode ser entendido apenas como baseado em uma vantagem comparativa natural, senão que resulta da acumulação de esforços que resultou em uma trajetória virtuosa de aprendizagem tecnológica, apoiada, em grande medida em inovações incrementais. Esse processo teve como ponto de inflexão o programa Proálcool, que foi deslanchado após o primeiro choque do petróleo, em 1973. A partir desse programa a agro-indústria iniciou uma trajetória virtuosa de inovação-difusão de inovações que tem possibilitado constantes aumentos de produtividade e baixa de custos de produção, tanto na fase como industrial. O avanço tecnológico beneficiou tanto a produção de álcool como a de açúcar, do qual o Brasil se tornou primeiro produtor mundial. Metodologia: O trabalho se apóia na abordagem de sistemas nacionais de inovação (Lundvall, 1992; Freeman, 1987, Nelson, 1993). Segundo essa abordagem o desempenho inovativo de um país, região ou mesmo setor, não pode ser apreendido apenas enfocando os esforços e o desempenho das empresas. A inovação resulta da interação de atores de diferente natureza institucional. Para analisar o arranjo institucional que dá embasamento ao processo de inovação, o trabalho realizará o levantamento de informações sobre esforços de P&D, políticas e estratégias de inovação dos principais atores do sistema de inovação brasileiro no setor da cana-de-açúcar (usinas de açúcar e de álcool, fornecedores de bens de capital, institutos privados e públicos de pesquisa, órgãos governamentais). O trabalho será dividido em três capítulos. No primeiro, faremos um levantamento histórico do sistema setorial de inovação, apoiando-nos na literatura existente. No segundo, realizaremos uma descrição dos esforços, estratégias e desempenho dos principais atores desse sistema, a partir de informações coletadas junto aos atores e a fontes de dados secundárias. No terceiro capítulo, refletiremos sobre a dinâmica interativa dos principais componentes desse sistema. Resultados: O setor canavieiro afigura-se como um dos mais dinâmicos do ponto de vista da inovação da agro-industria brasileira. Esse dinâmica virtuosa é resultado de um processo cumulativo de aprendizado, que começou a cristalizar-se a partir da implantação do Proálcool. A característica original do arranjo institucional constituído nesse setor consiste no predomínio dos recursos e das instituições privadas. Até mesmo parte da pesquisa pública é realizada a partir de recursos privados. Esse aspecto pode estar associado à elevada rentabilidade dos gastos de pesquisa nesse setor. Entretanto, o setor enfrenta sérios problemas de apropriabilidade, havendo rápida reprodução dos ganhos dos inovadores pelos seguidores. Esse aspecto tem funcionado como um desincentivo ao financiamento privado da P&D. Diante da necessidade de se intensificar o esforço produtivo e tecnológico para atender às novas perspectivas de expansão da produção de etanol, cabe realizar importantes mudanças no arranjo institucional existente, colocando o Estado numa posição mais ativa. Tal fenômeno vem se manifestando com maior clareza recentemente, com o possível lançamento de um programa etanol por parte da Fapesp.